Sabe essas filosofias de boteco? Essas que você fala depois de uma certa altura, e que mesmo séria você, por algum motivo, não para de rir? Então, resolvi aprofundar uma dessas. Na realidade, confesso, já havia pensado nesta questão sem ter na cabeça algo além de um ou outro neurônio, ou fio de cabelo. Mas, pare para refletir. Quando nos apaixonamos, nossa, sempre é amor, sempre é conto de fadas e na primeira semana ele realmente é o príncipe encantado. Mas depois isso acaba e pode ser na segunda semana ou na terceira, quarta, quinta... no final todos são sapos, e você não suporta mais saber que ele respira, pior ainda se ele estiver perto de você. Ai tudo acaba. Aqueles planos feitos no primeiro beijo, a essa altura, que doido lembraria? Eu lembraria. Sempre lembro, mas meu sentimento nesse momento não vem ao caso. Como eu ia dizendo... Estava tudo as mil maravilhas e aí acaba. Não dá para guardar só as lembranças boas. Nunca dá. Não mesmo. Às vezes não fica nem as ruins. Dá-se um jeito de apagar tudo. Mas e quando não dá? Você já parou pra pensar no que sobra? (Começando a filosofia de bar) Sempre que terminamos um relacionamento, seja de dois meses, três meses (o meu recorde) ou vinte anos, sempre vamos ter algo a menos dentro de nós, me refiro aos sentimentos, e é esse algo a menos que a próxima pessoa não vai ter. reflita comigo... Mas dessa vez reflita mesmo, sem estar armado na frente deste texto só esperando o final para criticar minha opinião, que aliás, é minha opinião e não precisa ser necessariamente a sua. Vou exemplificar para explicar melhor. Na ultima vez, ele realmente era o príncipe encantado, no meio de tantos sapos. Ela realmente era como nos sonhos, jeito, falas, corpo (não que seja muito importante, mas conta) e até as noites mal dormidas pensando se ele chegou bem em casa que não ficava a mais de dois quilômetros, as noites vendo as estrelas, a lua, deitados na grama de um parque qualquer que fico repentinamente charmoso. Não importa qual fosse a hora, ou melhor, não importava dormir pouco, sair mais cedo da faculdade, entre outras coisas empolgantes. Realmente parecia um sonho, e era sonho que sempre se quis. Até que... Como era de se esperar, o príncipe encantado se cansa da gata borralheira porque ela se tornou ciumenta demais, e porque ele cansou de olhar as estrelas e a lua que ela tanto gosta. E aí acaba, e aquelas noites mal dormidas pra ver a lua, as estrelas agora são afogadas por lágrimas, e suspiros intermináveis no meio da noite. E ver ele no dia seguinte e seguinte, é matar pouco a pouco esse pequeno mundinho que temos dentro do peito e que chamamos de coração. E aí tudo desaba. E aquela sensação de conforto, felicidade e bem estar, vai pro espaço, e se tem a certeza que você não vai mas ser tão idiota pra cair em outra conversa dessas. E é esse o ponto. Não vai mais ter tanta graça ver as estrelas e a lua deitados na grama daquele charmoso parquinho. E isso vai morrer em ti. E sabe aquela súbita vontade de sair correndo e beijar com força a boca antes de dar realmente o tchau? Não vai mais existir como antes, por que você vai pensar, - pode ter sido isso que fez acabar. E aí vai deixar de fazer. E todas aquelas coisas bonitas que você fazia vão deixar de existir. Você vai ter medo de sofrer novamente, e vai morrer aos poucos por isso, vai desistir de ser. E pode ser essa outra pessoa que está na sua frente o seu príncipe encantado, o seu amor verdadeiro, seu chinelo velho, sua outra metade da laranja, da maça, do melão e por que não, da melancia, e você vai perder, vai deixar ele escapar e não vai estar nem aí, por que você sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde, sempre acontece. E você vai perdendo a vontade de gostar de alguém, perde a vontade até de gostar de si mesma, perde o tesão que você sentia pela vida, pelos outros, pelo amor. E vai se magoar, mas agora sabendo que isso ia acontecer. E vai perder cada vez mais em cada relação. Cada vez você vai deixar um pouquinho de bom que existia ir embora, e você pode não notar, mas os outros vão receber isso, e vai se tornar uma bola de neve que vai te consumir e consumir sua vida, seu ânimo. E aí um dia, por acaso, você vai encontrar aquela pessoa que desencadeou aquele processo super bem, por que não feriu a ela, só você sentiu e aí seu mundo cai de novo e você ouve ele falar das suas novas conquistas sexuais e amorosas a uma amiga sua que por coincidência está do seu lado. Uma forte vontade de mandar ela para aqueles lugares te sobe à cabeça, mas você fica muda, com cara de assassino particular esperando para dar o bote, mas você engole, e ele olha e sorri. E não dá mais, você sabe que ele ta fazendo de propósito, e mais uma coisa morre em ti, a dignidade, talvez confiança nos seres humanos, vontade de tentar novamente, simplesmente morre. E um dia, não mais que um dia, você vai topar com alguém muito mais especial, e você vai tratá-lo mal, porque não da mais pra acreditar em amor, porque são todos safados e burros apesar de serem muito espertos e de falarem bem, porque você desistiu de aproveitar, de amar, de curtir, de sonhar e de ver estrelas, e porque ele vai te ouvir, e não vai cansar de ver como você é infantil, e vai achar graça nas suas besteiras, nos seus “pitis”, nas suas criancices e aos poucos você vai magoar ele, e ele vai passar por toda essa maratona que você passou com o senhor perfeito, e vai perder, mais uma vez, e vai seguir sozinha, vai querer atenção, mas não mais qualquer um pra dar atenção. E um dia, quem sabe você encontrará alguém pra te ensinar a gostar de todas essas coisas novamente, e você vai gostar dele, e quem sabe um dia dê certo, e quem sabe exista realmente contos de fadas e você saia desse bar.
Angel Fkorb